terça-feira, 20 de novembro de 2012

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA: 20 DE NOVEMBRO


Retirado de Portal Áfricas: http://africas.com.br/portal/consciencia-negra-o-que-e-e-como-usar/

Consciência Negra: o que é e como usar?

Consciência Negra somos nós, em nossa real dimensão de seres humanos, sabendo o que somos, de onde viemos e para onde vamos.

Nei Lopes

"Consciência Negra não é racismo ou complexo de inferioridade e, sim, um anseio legitimo de expansão e crescimento. Não é separatismo, segregacionismo, ressentimento, ódio ou desprezo pelos outros grupos que constituem a Nação brasileira."
por Nei Lopes

Quando te disserem que você quer dividir o Brasil em “pretos” e “brancos”, mostre que essa divisão sempre existiu. Se insistirem na acusação, mostre que, neste país, 121 anos após a Abolição, em todas as instâncias, o Poder é sempre branco. E que até mesmo como técnicos de futebol ou carnavalescos de escolas de samba, os negros só aparecem como exceção.

Quando, ainda batendo nessa tecla, te disserem que o Brasil é um país mestiço, concorde. Mas ressalve que essa mestiçagem só ocorre, com naturalidade, na base da pirâmide social, e nunca nas altas esferas do Poder. E que o argumento da “mestiçagem brasileira” tem legitimado a expropriação de muitas das criações do povo negro, do samba ao candomblé.

Quando te jogarem na cara a afirmação de que a África também teve escravidão, ensine a eles a diferença entre “servidão” e “cativeiro”. Mostre que a escravidão tradicional africana tinha as mesmas características da instituição em outras partes do mundo, principalmente numa época em que essa era a forma usual de exploração da força de trabalho. Lembre que, no escravismo tradicional africano, que separava os mais poderosos dos que nasciam sem poder, o bom escravo podia casar na família do seu senhor, e até tornar-se herdeiro.

E assim, se, por exemplo, no século XVII, Zumbi dos Palmares teve escravos, como parece certo, foi exatamente dentro desse contexto histórico e social. Diga, mais, a eles que, na África, foram primeiro levantinos e, depois, europeus que transformaram a escravidão em um negócio de altas proporções. Chegando, os europeus, ao ponto de fomentarem guerras para, com isso, fazerem mais cativos e lucrarem com a venda de armas e seres humanos.

Diga, ainda, na cara deles que, embora africanos também tenham vendido africanos como escravos, a África não ganhou nada com o escravismo, muito pelo contrário. Mas a Europa, esta sim, deu o seu grande salto, assumindo o protagonismo mundial, graças ao capital que acumulou coma escravidão africana. Da mesma que forma que a Ásia Menor, com o tráfico pelo Oceano Índico, desde tempos remotos.

Quando te enervarem dizendo que “movimento negro” é imitação de americano, esclareça que já em 1833, no Rio, o negro Francisco de Paula Brito (cujo bicentenário estamos comemorando) liderava a publicação de um jornal chamado O Homem de Cor, veiculando, mesmo com as limitações de sua época, reivindicações do povo negro. Que daí, em diante, a mobilização dos negros em busca de seus direitos, nunca deixou de existir. E isto, na publicação de jornais e revistas, na criação de clubes e associações, nas irmandades católicas, nas casas de candomblé… Etc.etc.etc.

Aí, pergunte a eles se já ouviram falar no clube Floresta Aurora, fundado em 1872 em Porto Alegre e ativo até hoje; se têm idéia do que foi a Frente Negra Brasileira, a partir de 1931, e o Teatro Experimental do Negro, de 1944. Mostre a eles que movimento negro não é um modismo brasileiro. Que a insatisfação contra a exclusão é geral. Desde a fundação do “Partido Independiente de Color”, em Cuba, 1908, passando pelo movimento “Nuestra Tercera Raíz” dos afro-mexicanos, em 1991; pela eleição do afro-venezuelano Aristúbolo Isturiz como prefeito de Caracas, em 1993; pelo esforço de se incluírem conteúdos afro-originados no currículo escolar oficial colombiano no final dos 1990; e chegando à atual mobilização dos afrodescendentes nas províncias argentinas de Corrientes, Entre Rios e Missiones, para só ficar nesses exemplos.

Quando, de dedo em riste, te jogarem na cara que os negros do Brasil não são africanos e, sim, brasileiros; e que muitos brasileiros pretos (como a atleta Fulana de Tal, a atriz Beltrana, e o sambista Sicraninho da Escola Tal) têm em seu DNA mais genes europeus do que africanos, concorde. Mas diga a eles que a Biologia não é uma ciência humana; e, assim, ela não explica o porquê de os afrobrasileiros notórios serem quase que invariavelmente, e apenas, profissionais da área esportiva e do entretenimento. E depois lembre que a Constituição Brasileira protege os bens imateriais portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira e suas respectivas formas de expressão. E que a Consciência Negra é um desses bens intangíveis.

Consciência Negra – repita bem alto pra eles, parafraseando Leopold Senghor – não é racismo ou complexo de inferioridade e, sim, um anseio legitimo de expansão e crescimento. Não é separatismo, segregacionismo, ressentimento, ódio ou desprezo pelos outros grupos que constituem a Nação brasileira.
Consciência Negra somos nós, em nossa real dimensão de seres humanos, sabendo claramente o que somos, de onde viemos e para onde vamos, interagindo, de igual pra igual, com todos os outros seres humanos, em busca de um futuro de força, paz, estabilidade e desenvolvimento.

Globalização Milton Santos - O mundo global visto do lado de cá.



O mundo global visto do lado de cá, documentário do cineasta brasileiro Sílvio Tendler, discute os problemas da globalização sob a perspectiva das periferias (seja o terceiro mundo, seja comunidades carentes). O filme é conduzido por uma entrevista com o geógrafo e intelectual baiano Milton Santos, gravada quatro meses antes de sua morte.
O cineasta conheceu Milton Santos em 1995, e desde então tinha planos para filmar o geógrafo. Os anos foram passando e, somente em 2001, Tendler realizou o que seria a última entrevista de Milton (que viria a morrer cinco meses depois). Baseado nesse primeiro ponto de partida o documentário procura explicar, ou até mesmo elucidar, essa tal Globalização da qual tanto ouvimos falar.
O documentário percorre algumas trilhas desses caminhos apontados por Milton, vemos movimentos na Bolívia, na França, México e chegamos ao Brasil, na periferia de Brasília. Em Ceilândia, a câmera nos mostra pessoas dispostas a mudar as manchetes dos jornais que só falam da comunidade para retratar a violência local. Adirley Queiroz, ex-jogador de futebol, hoje cineasta, estudou os textos de Milton e procura novos caminhos para fugir do 'sistema' ou do Globaritarismo - termo criado por Milton Santos para designar a nova ordem mundial.
(Resumo postado por quem disponibilizu o vídeo no You Tube)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012


 

Retirado de 
http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/92/dados.pdf

Lima Barreto

Escritor e jornalista polêmico, e um dos mais destacados intelectuais brasileiros com atuação nas primeiras décadas do século XX, Afonso Henriques de Lima Barreto é considerado por Octavo Ianni como um dos fundadores da literatura negra ou afrobrasileira.
Coincidentemente, o escritor nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881, filho de João Henriques de Lima Barreto e Amália Augusta Barreto – ambos mestiços.
Tinha como avó uma escrava liberta, Geraldina Leocádia da Conceição, agregada da família Pereira de Carvalho, cuja mãe, Maria da Conceição, nascera na África, tendo sido transportada para o Brasil em um navio negreiro. A figura dessa bisavó parece permear o imaginário do escritor, como destaca seu biógrafo, Francisco de Assis Barbosa, ao resgatar uma das crônicas do autor, publicada em 1918:

Era da África, de nação Moçambique (...) viera ainda rapariguinha para aqui, onde tivera para seu primeiro senhor os Carvalho de São Gonçalo; conhecera D. João VI, e, sobre ele, desconexamente, contava uma ou outra coisa avaramente guardada naquela estragada memória. (BARBOSA: 1952, 22)

Lima Barreto era proveniente de uma família humilde. Seu pai exerceu por muitos anos o ofício da tipografia em jornais importantes da época, tais como Jornal do Comércio e A Reforma. Sua mãe trabalhou como professora, em uma pequena escola fundada pelo marido, porém, dela se afastou devido aos problemas de
saúde que apresentava. Amália Augusta foi a primeira mestra do escritor, vindo a falecer quando o filho tinha 7 anos de idade, vítima de tuberculose. A esse episódio fatídico o autor vincula seu temperamento introspectivo, quando desabafa:

Talvez fosse menos rebelde, menos sombrio e desconfiado, mais contente com a vida, se ela vivesse. Deixando-me ainda na primeira infância, bem cedo firmou-se o meu caráter; mas em contrapeso, bem cedo me vieram o desgosto de viver, o retraimento por desconfiar de todos, a capacidade de ruminar mágoas sem comunicá-las a ninguém. (BARBOSA: 1952, 44)

Contando com o auxílio do padrinho de batismo, o Visconde de Ouro Preto, completou o ensino ginasial no colégio Pedro II. Em 1897, entra para a Escola Politécnica. As condições precárias da família, principalmente após a morte da mãe e a doença mental que assolava o pai, fizeram com que Lima Barreto abandonasse o sonho que seu pai alimentava e a ele transmitia: fazer do filho um engenheiro. Assim, o escritor abandona o curso da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, para que pudesse trabalhar e assumir o sustento da sua família. Porém, já na mocidade sonhava em tornar-se um literato – um sonho ao qual se impunham barreiras, como ressalta Barbosa ao reproduzir um desabafo do autor:

‘É triste não ser branco’ escreveu Lima Barreto em seu Diário Íntimo, resumindo numa confidência amarga todas as limitações que sofria. Mais que um complexo, a cor era uma barreira para a sua vocação de escritor. Tinha que transpô-la, mesmo que não conseguisse vencer o complexo. (BARBOSA: 1952, 144)

Parece-nos que Lima Barreto tentava transpor a “barreira da cor” através da produção literária, a qual iria dedicar todos os seus esforços. Parece-nos também, ao lermos o Diário Íntimo e O cemitério dos vivos, que o complexo viria a agravar a melancolia, a angústia e o sofrimento do escritor.
Em 1902, Lima Barreto passa a atuar na imprensa estudantil; muda-se, juntamente com sua família, para o subúrbio do Rio de Janeiro e ingressa, através de Concurso, na Secretaria da Guerra. Com o modesto ordenado que recebia como funcionário público, passa a dedicar-se à literatura. Inicia em 1904 a escrita da primeira versão do livro Clara dos Anjos, que só viria a ser publicado em 1948. No ano seguinte, escreve Recordações do escrivão Isaías Caminha e, ao mesmo tempo, começa sua carreira como jornalista profissional no Correio da Manhã. Nesse período, também se dedica intensamente, nas salas da Biblioteca Nacional, à leitura dos clássicos da literatura mundial, das obras realistas e dos romancistas russos. Alguns anos depois, escreve o romance Vida e morte de M. J. Gonzaga. Em 1911, durante três meses, publica Triste fim de Policarpo Quaresma, em formato de folhetim, no Jornal do Comércio.
O vício da bebida, que desembocaria no alcoolismo crônico do autor, apresenta suas primeiras manifestações, porém não o impede de continuar colaborando em diversos jornais da época. Em 1915, seu romance Numa e ninfa sai publicado no periódico A Noite. No ano seguinte, surge em livro o romance Triste fim de Policarpo Quaresma, juntamente com os contos "A Nova Califórnia" e "O homem que sabia javanês", sendo o volume bem acolhido pela crítica da época que via em Lima Barreto o sucessor literário de Machado de Assis.
Em 1917, após a primeira intervenção médica sofrida pelo escritor, que consistia em sua reclusão no hospital psiquiátrico, Barreto entrega ao editor os originais de Os Bruzundangas, que só viria a ser publicado após sua morte. No ano seguinte, após o diagnóstico de epilepsia tóxica, é afastado do trabalho e aposentado. Logo depois se candidata a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas seu pleito é recusado. No início de 1919, suspende a colaboração no semanário político A.B.C., por ter a revista publicado um artigo contra a raça negra, com o qual não concordava. Pela segunda vez, candidata-se à vaga na ABL, não conseguindo êxito. De dezembro a janeiro do ano seguinte, é internado no hospício devido à forte crise nervosa que o acometia, disto resultando as anotações dos primeiros capítulos da obra O cemitério dos vivos, publicada em 1953 junto com seu Diário íntimo. Recebeu menção honrosa na categoria melhor livro do ano com o romance Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá.
Já com a saúde debilitada, Lima Barreto se recolhe à modesta casa do bairro de Todos os Santos e à difícil convivência com as crises do pai. Em 1921, candidatase pela terceira vez à Academia e logo depois retira sua inscrição. Entrega ao editor os originais de Bagatelas, que só seria publicado em 1923. No fim da vida, o escritor sofre também frequentes crises de reumatismo. E vem a falecer em 1° de novembro de 1922, vítima de colapso cardíaco. Dias depois, falece o pai. Ambos estão sepultados no cemitério São João Batista, onde o escritor desejava que fosse a sua última morada.

África: uma história rejeitada



Um interessante documentário sobre a África e sua história.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Olga, o Filme (Trailer)


Trailer do filme que retrata a vida de Olga Benário: sua luta por um ideal revolucionário, seu envolvimento com Luis Carlos Prestes na preparação do levante comunista de 1935 no Brasil, e sua deportação, grávida de sete meses, para a Alemanha, pelo governo de Getúlio Vargas, onde morreu em um campo de extermínio nazista.

Olga Benário é deportada para a Alemanha durante o governo de Getúlio Vargas e executada em campo de extermínio nazista


Trecho do texto publicado no site http://www.culturabrasil.pro.br/olga.htm


Um Telegrama dos aliados e uma carta de Olga

 

Olga Benário
Luís Carlos Prestes
Cercado de amigos ele se preparava para subir a escada do vagão-leito, quando um jovem chegou correndo, abrindo passagem entre os que se despediam do chefe comunista:
_ Capitão! Capitão Prestes! Um momento, não embarque!
Temeu-se uma tentativa de agressão, mas o rapaz se identificou:
_ Sou repórter da agência de notícias United Press. Nós tínhamos pedido às sucursais européias que buscassem informações sobre Olga Benario, e acabamos de receber este telegrama sobre ela, enviado pelo correspondente em Berlim.
Ansioso, Prestes levou o pedaço de papel aos olhos e leu-o com o rosto crispado, diante do silêncio dos amigos que o fitavam. Levantou a cabeça e disse apenas três palavras:
_ Olga está morta.
Era um despacho curto, sem muitos detalhes:
“Berlim - As autoridades aliadas acabam de informar que entre as 200 mulheres executadas na câmara de gás da cidade alemã de Bernburg, na Páscoa de 1942, estava a senhora Olga Benario, esposa do dirigente comunista brasileiro Luís Carlos Prestes.”


Prestes entrou no que já começava a se movimentar rumo ao Rio de Janeiro, caminhou por entre as poltronas em silêncio, sentou-se e leu mais uma vez a notícia, antes de guardar o papel no bolso do paletó.
Só muitos anos depois é que ele receberia a última carta que Olga escrevera a ele e à filha, ainda em Ravensbrück, na noite da viagem de ônibus que a levaria à morte em Bernburg. Transcrevo literalmente pela beleza da peça e para que se possa conhecer melhor o coração da mulher:


“Queridos:
Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças - ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte.  Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Conformar-me-ia, mesmo se não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem.  E queria ver teu sorriso.  Quero-os a ambos, tanto, tanto.  E estou tão agradecida à vida, por ela haver me dado a ambos.  Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei.  Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?
Querida Anita, Meu querido marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso que me esforço para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas.  Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta.  De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas.  Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijos pela última vez.
Olga.”
  

Lázaro Curvêlo Chaves
 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Filme Escritores da Liberdade

Trecho no qual a professora fala sobre o Holocausto para a sua turma, formada por integrantes de gangues rivais por serem de etnias diferentes. O filme aborda o preconceito e a intolerância. Excelente filme e excelente instrumento para trabalhar Segunda Guerra e Holocausto com os alunos.

 Retirado do site UOL Educação

http://educacao.uol.com.br/historia/anne-frank-e-seu-diario-os-relatos-de-uma-vitima-do-holocausto-nazista.jhtm

Anne Frank e seu diário

Os relatos de uma vítima do holocausto nazista

Túlio Vilela
Divulgação/Organização Anne FrankEspecial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação


Retrato da adolescente Anne Frank, vítima e testemunha do holocausto
Em 3 de abril de 1946, o mundo conheceu a tragédia de Anne Frank, que se tornou um dos símbolos do holocausto: artigo intitulado Kinderstem ("A voz de uma criança") publicado no jornal holandês Het Parool contava trechos do diário da menina que havia sido morta em campo de concentração.

Anne nasceu na Alemanha em 1929. Seu verdadeiro nome era Annelies Marie, mas todos em sua família a chamavam carinhosamente de "Anne". Ela era a segunda filha do casal Otto e Edith Frank. Sua irmã, Margot, era quatro anos mais velha.

O pai era um homem de negócios e um oficial condecorado que lutou no exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1934, quando o nazismo fez aumentar as perseguições aos judeus na Alemanha, a família mudou-se para Amsterdã, na Holanda.

As filhas do casal foram matriculadas em escolas locais, onde se saíram muito bem nos estudos: Margot demonstrava maior aptidão para matemática, enquanto Anne demonstrava maior interesse em leitura e redação.

Em 1938, Otto Frank e um sócio, Hermann van Pels, fundaram uma empresa nova. O sócio também era um judeu que havia fugido com a família para a Holanda. Em 1939, a avó materna de Anne Frank veio morar com a família e permaneceu com eles até sua morte em janeiro de 1942.


Ocupação da Holanda

Em maio de 1940, a Alemanha nazista invadiu e ocupou a Holanda. Sob a ocupação nazista, os judeus que viviam na Holanda passaram a ser alvo de leis segregacionistas. Crianças judias ficaram proibidas de estudar nas mesmas escolas onde estudavam crianças não-judias. Por causa dessa proibição, Anne e Margot tiveram que ser transferidas das escolas onde estudavam para um colégio judaico.

No dia 12 de junho de 1942, quando completou 13 anos, Anne Frank ganhou de presente de seu pai um livro. Esse livro era o mesmo que estava na vitrine de uma loja em que ela e o pai passaram e que havia lhe chamado a atenção. Embora fosse um livro para autógrafos, Anne começou a usá-lo como diário quase que imediatamente.

Nele, a jovem começou a registrar fatos corriqueiros na vida de qualquer adolescente. Pouco a pouco, Anne começou a registrar com freqüência cada vez maior as dificuldades enfrentadas pelos judeus por causa da ocupação nazista.


O esconderijo

No mês de julho de 1942, a família Frank recebeu a notícia de que seria obrigada a se mudar para um campo de trabalhos forçados. Para fugir desse destino, a família transferiu-se para um esconderijo no prédio onde funcionava o escritório do pai.

Para deixar a impressão de que haviam fugido apressadamente, Anne e seus familiares deixaram o apartamento todo desarrumado. Além disso, o pai deixou um bilhete, tratava-se de uma pista falsa com o intuito de levar os nazistas a acreditarem que a família estava tentando viajar para a Suíça.

O prédio comercial onde Anne e sua família se esconderam tinha dois andares, com escritórios, um moinho e depósitos de grãos. O esconderijo consistia em alguns cômodos num anexo que ficava nos fundos do prédio. Para disfarçar o esconderijo, uma estante de livros foi colocada na frente da porta que dava para o anexo.

Na montagem do esconderijo, Otto Frank contou com a ajuda dos quatro funcionários em quem mais confiava: Victor Kugler, Johannes Kleiman, Miep Gies e Bep Voskuijl. Eles mais o pai de Johannes e o marido de Miep eram os únicos que sabiam da existência do esconderijo.


Vida clandestina

Essas pessoas mantinham os Frank informados com notícias da guerra e da perseguição dos nazistas aos judeus. Também os ajudavam trazendo comida que compravam no "mercado negro", tarefa que foi se tornando cada vez mais difícil e arriscada com o tempo. Os cidadãos não-judeus que ajudavam judeus a se esconderem corriam o risco de ser executados imediatamente pelos nazistas caso fossem descobertos.

No final de julho daquele ano, outros judeus buscaram abrigo no mesmo esconderijo: a família van Pels, que era composta por Hermann, o sócio de Otto Frank, sua esposa, Auguste, e o filho Peter, um jovem de dezesseis anos.

No começo, Anne não se interessou pelo tímido Peter por achá-lo desajeitado demais, mas depois mudou de opinião e ambos iniciaram um romance. Em novembro, um amigo judeu da família de Anne também passou a morar no esconderijo: o dentista Fritz Pfeffer. Como era de se esperar, com tantas pessoas vivendo juntas e em condições precárias, problemas de convivência começaram a surgir. Para piorar, estava cada vez mais difícil conseguir comida.

Anne passava a maior parte do tempo escrevendo seu diário ou estudando. Todo dia, logo após o almoço, ela fazia atividades de matemática, línguas, história e outras matérias.

Na manhã de 4 de agosto de 1944, a polícia nazista invadiu o esconderijo, cuja localização foi descoberta por um informante que jamais foi identificado. Todos os refugiados foram colocados em caminhões e levados para interrogatório. Victor Kugler e Johannes Kleiman também foram presos, ao contrário de Miep Gies e Bep Voskuijl, que foram liberados.

Esses últimos voltaram ao esconderijo onde encontraram os papéis de Anne espalhados no chão e diversos álbuns com fotografias da família. Eles reuniram esse material e o guardaram na esperança de devolver à Anne depois que a guerra terminasse.


Auschwitz

Anne Frank e sua família foram mandadas para o campo de Auschwitz, na Polônia. Mais do que um campo de concentração, era também um campo de extermínio. Idosos, crianças pequenas e todos aqueles que fossem considerados inaptos para o trabalho eram separados do demais para serem exterminados de imediato.

Dos 1.019 prisioneiros transportados no trem que trouxe Anne Frank, 549 (incluindo crianças) foram separados dos demais para serem mortos nas câmaras de gás. Mulheres e homens eram separados. Assim, Otto Frank perdeu contato com a esposa e as filhas.

Junto com as outras prisioneiras selecionadas para o trabalho forçado, Anne foi obrigada a ficar nua para ser "desinfetada", teve a cabeça raspada e um número de identificação tatuado no braço. Durante o dia, as prisioneiras eram obrigadas a trabalhar. À noite elas eram reunidas em barracas geladas e apertadas. As péssimas condições de higiene propiciavam aparecimento de doenças. Anne teve sua pele vitimada pela sarna.

No dia 28 de outubro, Anne, Margot e a senhora van Pels foram transferidas para um outro campo, localizado em Bergen-Belsen, na Alemanha. A mãe, Edith, foi deixada para trás, permanecendo em Auschwitiz. Em março de 1945, uma epidemia de tifo se espalhou pelo campo de Bergen-Belsen.

Estima-se que cerca de 17 mil pessoas morreram por causa da doença. Entre as vítimas estavam Margot e Anne, que morreu com apenas 15 anos de idade, poucos dias depois de sua irmã ter morrido. Seus corpos foram jogados numa pilha de cadáveres e então cremados.


O sobrevivente

Otto Frank foi o único membro da família que sobreviveu e voltou para a Holanda. Ao ser libertado, soube que a esposa havia morrido e que as filhas haviam sido transferidas para Bergen-Belsen. Ele ainda tinha esperança de reencontrar as filhas vivas.

Em julho de 1945, a Cruz Vermelha confirmou as mortes de Anne e Margot. Foi então que Miep Gies entregou para Otto Frank o diário que Anne havia escrito. Otto mostrou o diário à historiadora Annie Romein-Verschoor, que tentou sem sucesso publicá-lo. Ela o mostrou ao marido, o jornalista Jan Romein, que escreveu um texto sobre o diário de Anne.

O diário foi finalmente publicado pela primeira vez em 1947.

A obra teve tal sucesso, que os editores lançaram uma segunda tiragem em 1950. O "Diário de Anne Frank" foi traduzido para diversas línguas, com mais de 30 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. O livro que começou como um simples diário de adolescente transformou-se num comovente testemunho do terror nazista

*Túlio Vilela, formado em história pela USP, é professor da rede pública do Estado de São Paulo e um dos autores de "Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula" (Editora Contexto).