Entrevista com os escritores africanos José Eduardo Agualusa, de Angola, e Mia Couto, de Moçambique.
Este blog nasceu para que eu pudesse cumprir uma tarefa do curso Formação Continuada em Tecnologias Educacionais na Web - Módulo 2. E viverá porque será sempre alimentado pela História do ser humano e pela Educação que o transforma.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Programa Sempre Um Papo Mia Couto e Agualusa - 2009
Entrevista com os escritores africanos José Eduardo Agualusa, de Angola, e Mia Couto, de Moçambique.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Retirado de
http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/92/dados.pdf
Lima Barreto
Escritor e jornalista polêmico, e um dos mais destacados intelectuais brasileiros com atuação nas primeiras décadas do século XX, Afonso Henriques de Lima Barreto é considerado por Octavo Ianni como um dos fundadores da literatura negra ou afrobrasileira.
Coincidentemente, o escritor nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881, filho de João Henriques de Lima Barreto e Amália Augusta Barreto – ambos mestiços.
Tinha como avó uma escrava liberta, Geraldina Leocádia da Conceição, agregada da família Pereira de Carvalho, cuja mãe, Maria da Conceição, nascera na África, tendo sido transportada para o Brasil em um navio negreiro. A figura dessa bisavó parece permear o imaginário do escritor, como destaca seu biógrafo, Francisco de Assis Barbosa, ao resgatar uma das crônicas do autor, publicada em 1918:
Era da África, de nação Moçambique (...) viera ainda rapariguinha para aqui, onde tivera para seu primeiro senhor os Carvalho de São Gonçalo; conhecera D. João VI, e, sobre ele, desconexamente, contava uma ou outra coisa avaramente guardada naquela estragada memória. (BARBOSA: 1952, 22)
Lima Barreto era proveniente de uma família humilde. Seu pai exerceu por muitos anos o ofício da tipografia em jornais importantes da época, tais como Jornal do Comércio e A Reforma. Sua mãe trabalhou como professora, em uma pequena escola fundada pelo marido, porém, dela se afastou devido aos problemas de
saúde que apresentava. Amália Augusta foi a primeira mestra do escritor, vindo a falecer quando o filho tinha 7 anos de idade, vítima de tuberculose. A esse episódio fatídico o autor vincula seu temperamento introspectivo, quando desabafa:
Talvez fosse menos rebelde, menos sombrio e desconfiado, mais contente com a vida, se ela vivesse. Deixando-me ainda na primeira infância, bem cedo firmou-se o meu caráter; mas em contrapeso, bem cedo me vieram o desgosto de viver, o retraimento por desconfiar de todos, a capacidade de ruminar mágoas sem comunicá-las a ninguém. (BARBOSA: 1952, 44)
Contando com o auxílio do padrinho de batismo, o Visconde de Ouro Preto, completou o ensino ginasial no colégio Pedro II. Em 1897, entra para a Escola Politécnica. As condições precárias da família, principalmente após a morte da mãe e a doença mental que assolava o pai, fizeram com que Lima Barreto abandonasse o sonho que seu pai alimentava e a ele transmitia: fazer do filho um engenheiro. Assim, o escritor abandona o curso da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, para que pudesse trabalhar e assumir o sustento da sua família. Porém, já na mocidade sonhava em tornar-se um literato – um sonho ao qual se impunham barreiras, como ressalta Barbosa ao reproduzir um desabafo do autor:
‘É triste não ser branco’ escreveu Lima Barreto em seu Diário Íntimo, resumindo numa confidência amarga todas as limitações que sofria. Mais que um complexo, a cor era uma barreira para a sua vocação de escritor. Tinha que transpô-la, mesmo que não conseguisse vencer o complexo. (BARBOSA: 1952, 144)
Parece-nos que Lima Barreto tentava transpor a “barreira da cor” através da produção literária, a qual iria dedicar todos os seus esforços. Parece-nos também, ao lermos o Diário Íntimo e O cemitério dos vivos, que o complexo viria a agravar a melancolia, a angústia e o sofrimento do escritor.
Em 1902, Lima Barreto passa a atuar na imprensa estudantil; muda-se, juntamente com sua família, para o subúrbio do Rio de Janeiro e ingressa, através de Concurso, na Secretaria da Guerra. Com o modesto ordenado que recebia como funcionário público, passa a dedicar-se à literatura. Inicia em 1904 a escrita da primeira versão do livro Clara dos Anjos, que só viria a ser publicado em 1948. No ano seguinte, escreve Recordações do escrivão Isaías Caminha e, ao mesmo tempo, começa sua carreira como jornalista profissional no Correio da Manhã. Nesse período, também se dedica intensamente, nas salas da Biblioteca Nacional, à leitura dos clássicos da literatura mundial, das obras realistas e dos romancistas russos. Alguns anos depois, escreve o romance Vida e morte de M. J. Gonzaga. Em 1911, durante três meses, publica Triste fim de Policarpo Quaresma, em formato de folhetim, no Jornal do Comércio.
O vício da bebida, que desembocaria no alcoolismo crônico do autor, apresenta suas primeiras manifestações, porém não o impede de continuar colaborando em diversos jornais da época. Em 1915, seu romance Numa e ninfa sai publicado no periódico A Noite. No ano seguinte, surge em livro o romance Triste fim de Policarpo Quaresma, juntamente com os contos "A Nova Califórnia" e "O homem que sabia javanês", sendo o volume bem acolhido pela crítica da época que via em Lima Barreto o sucessor literário de Machado de Assis.
Em 1917, após a primeira intervenção médica sofrida pelo escritor, que consistia em sua reclusão no hospital psiquiátrico, Barreto entrega ao editor os originais de Os Bruzundangas, que só viria a ser publicado após sua morte. No ano seguinte, após o diagnóstico de epilepsia tóxica, é afastado do trabalho e aposentado. Logo depois se candidata a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas seu pleito é recusado. No início de 1919, suspende a colaboração no semanário político A.B.C., por ter a revista publicado um artigo contra a raça negra, com o qual não concordava. Pela segunda vez, candidata-se à vaga na ABL, não conseguindo êxito. De dezembro a janeiro do ano seguinte, é internado no hospício devido à forte crise nervosa que o acometia, disto resultando as anotações dos primeiros capítulos da obra O cemitério dos vivos, publicada em 1953 junto com seu Diário íntimo. Recebeu menção honrosa na categoria melhor livro do ano com o romance Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá.
Já com a saúde debilitada, Lima Barreto se recolhe à modesta casa do bairro de Todos os Santos e à difícil convivência com as crises do pai. Em 1921, candidatase pela terceira vez à Academia e logo depois retira sua inscrição. Entrega ao editor os originais de Bagatelas, que só seria publicado em 1923. No fim da vida, o escritor sofre também frequentes crises de reumatismo. E vem a falecer em 1° de novembro de 1922, vítima de colapso cardíaco. Dias depois, falece o pai. Ambos estão sepultados no cemitério São João Batista, onde o escritor desejava que fosse a sua última morada.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
O perigo da história única por Chimamanda Adichie
Chimamanda Adichie, escritora nigeriana, nos fala sobre o perigo da história única.
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Olga, o Filme (Trailer)
Trailer do filme que retrata a vida de Olga Benário: sua luta por um ideal revolucionário, seu envolvimento com Luis Carlos Prestes na preparação do levante comunista de 1935 no Brasil, e sua deportação, grávida de sete meses, para a Alemanha, pelo governo de Getúlio Vargas, onde morreu em um campo de extermínio nazista.
Olga Benário é deportada para a Alemanha durante o governo de Getúlio Vargas e executada em campo de extermínio nazista
Trecho do texto publicado no site http://www.culturabrasil.pro.br/olga.htm
Um Telegrama dos aliados e uma carta de Olga
| Olga Benário |
![]() |
| Luís Carlos Prestes |
Cercado de amigos ele se preparava para subir a
escada do vagão-leito, quando um jovem chegou correndo, abrindo passagem entre
os que se despediam do chefe comunista:
_ Capitão! Capitão Prestes! Um momento, não
embarque!
Temeu-se uma tentativa de agressão, mas o rapaz se
identificou:
_ Sou repórter da agência de notícias United Press.
Nós tínhamos pedido às sucursais européias que buscassem informações sobre
Olga Benario, e acabamos de receber este telegrama sobre ela, enviado pelo
correspondente em Berlim.
Ansioso, Prestes levou o pedaço de papel aos olhos
e leu-o com o rosto crispado, diante do silêncio dos amigos que o fitavam.
Levantou a cabeça e disse apenas três palavras:
_ Olga está morta.
Era um despacho curto, sem muitos detalhes:
“Berlim - As autoridades aliadas acabam de
informar que entre as 200 mulheres executadas na câmara de gás da cidade alemã
de Bernburg, na Páscoa de 1942, estava a senhora Olga Benario, esposa do
dirigente comunista brasileiro Luís Carlos Prestes.”
Prestes entrou no que já começava a se movimentar
rumo ao Rio de Janeiro, caminhou por entre as poltronas em silêncio, sentou-se
e leu mais uma vez a notícia, antes de guardar o papel no bolso do paletó.
Só muitos anos depois é que ele receberia a última
carta que Olga escrevera a ele e à filha, ainda em Ravensbrück, na noite da
viagem de ônibus que a levaria à morte em Bernburg. Transcrevo literalmente
pela beleza da peça e para que se possa conhecer melhor o coração da mulher:
“Queridos:
Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha
vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que
são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora.
É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a
ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos.
Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças - ah, não, elas foram cortadas.
Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou
fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre
comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo
nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida,
como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já
volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E
agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar
teu corpinho cálido é para mim como a morte. Carlos, querido, amado meu:
terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Conformar-me-ia,
mesmo se não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me
olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou
tão agradecida à vida, por ela haver me dado a ambos. Mas o que eu gostaria
era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes
imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes
por nossa filha?
Querida Anita, Meu querido marido, meu garoto: choro
debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois parece que hoje as forças não
conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso
que me esforço para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas
últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro
tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de
vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo,
pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o
último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam
bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber
fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer
tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de
viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijos pela última vez.
Olga.”
Lázaro Curvêlo Chaves
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Filme Escritores da Liberdade
Trecho no qual a professora fala sobre o Holocausto para a sua turma, formada por integrantes de gangues rivais por serem de etnias diferentes. O filme aborda o preconceito e a intolerância. Excelente filme e excelente instrumento para trabalhar Segunda Guerra e Holocausto com os alunos.
Retirado do site UOL Educação
http://educacao.uol.com.br/historia/anne-frank-e-seu-diario-os-relatos-de-uma-vitima-do-holocausto-nazista.jhtm
Anne Frank e seu diário
Os relatos de uma vítima do holocausto nazista
Retrato da adolescente Anne Frank, vítima e testemunha do holocausto
|
Em 3 de abril de 1946, o mundo conheceu a tragédia de Anne Frank, que se tornou um dos símbolos do holocausto: artigo intitulado Kinderstem ("A voz de uma criança") publicado no jornal holandês Het Parool contava trechos do diário da menina que havia sido morta em campo de concentração.
Anne nasceu na Alemanha em 1929. Seu verdadeiro nome era Annelies Marie, mas todos em sua família a chamavam carinhosamente de "Anne". Ela era a segunda filha do casal Otto e Edith Frank. Sua irmã, Margot, era quatro anos mais velha.
O pai era um homem de negócios e um oficial condecorado que lutou no exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1934, quando o nazismo fez aumentar as perseguições aos judeus na Alemanha, a família mudou-se para Amsterdã, na Holanda.
As filhas do casal foram matriculadas em escolas locais, onde se saíram muito bem nos estudos: Margot demonstrava maior aptidão para matemática, enquanto Anne demonstrava maior interesse em leitura e redação.
Em 1938, Otto Frank e um sócio, Hermann van Pels, fundaram uma empresa nova. O sócio também era um judeu que havia fugido com a família para a Holanda. Em 1939, a avó materna de Anne Frank veio morar com a família e permaneceu com eles até sua morte em janeiro de 1942.
No dia 12 de junho de 1942, quando completou 13 anos, Anne Frank ganhou de presente de seu pai um livro. Esse livro era o mesmo que estava na vitrine de uma loja em que ela e o pai passaram e que havia lhe chamado a atenção. Embora fosse um livro para autógrafos, Anne começou a usá-lo como diário quase que imediatamente.
Nele, a jovem começou a registrar fatos corriqueiros na vida de qualquer adolescente. Pouco a pouco, Anne começou a registrar com freqüência cada vez maior as dificuldades enfrentadas pelos judeus por causa da ocupação nazista.
Para deixar a impressão de que haviam fugido apressadamente, Anne e seus familiares deixaram o apartamento todo desarrumado. Além disso, o pai deixou um bilhete, tratava-se de uma pista falsa com o intuito de levar os nazistas a acreditarem que a família estava tentando viajar para a Suíça.
O prédio comercial onde Anne e sua família se esconderam tinha dois andares, com escritórios, um moinho e depósitos de grãos. O esconderijo consistia em alguns cômodos num anexo que ficava nos fundos do prédio. Para disfarçar o esconderijo, uma estante de livros foi colocada na frente da porta que dava para o anexo.
Na montagem do esconderijo, Otto Frank contou com a ajuda dos quatro funcionários em quem mais confiava: Victor Kugler, Johannes Kleiman, Miep Gies e Bep Voskuijl. Eles mais o pai de Johannes e o marido de Miep eram os únicos que sabiam da existência do esconderijo.
No final de julho daquele ano, outros judeus buscaram abrigo no mesmo esconderijo: a família van Pels, que era composta por Hermann, o sócio de Otto Frank, sua esposa, Auguste, e o filho Peter, um jovem de dezesseis anos.
No começo, Anne não se interessou pelo tímido Peter por achá-lo desajeitado demais, mas depois mudou de opinião e ambos iniciaram um romance. Em novembro, um amigo judeu da família de Anne também passou a morar no esconderijo: o dentista Fritz Pfeffer. Como era de se esperar, com tantas pessoas vivendo juntas e em condições precárias, problemas de convivência começaram a surgir. Para piorar, estava cada vez mais difícil conseguir comida.
Anne passava a maior parte do tempo escrevendo seu diário ou estudando. Todo dia, logo após o almoço, ela fazia atividades de matemática, línguas, história e outras matérias.
Na manhã de 4 de agosto de 1944, a polícia nazista invadiu o esconderijo, cuja localização foi descoberta por um informante que jamais foi identificado. Todos os refugiados foram colocados em caminhões e levados para interrogatório. Victor Kugler e Johannes Kleiman também foram presos, ao contrário de Miep Gies e Bep Voskuijl, que foram liberados.
Esses últimos voltaram ao esconderijo onde encontraram os papéis de Anne espalhados no chão e diversos álbuns com fotografias da família. Eles reuniram esse material e o guardaram na esperança de devolver à Anne depois que a guerra terminasse.
Dos 1.019 prisioneiros transportados no trem que trouxe Anne Frank, 549 (incluindo crianças) foram separados dos demais para serem mortos nas câmaras de gás. Mulheres e homens eram separados. Assim, Otto Frank perdeu contato com a esposa e as filhas.
Junto com as outras prisioneiras selecionadas para o trabalho forçado, Anne foi obrigada a ficar nua para ser "desinfetada", teve a cabeça raspada e um número de identificação tatuado no braço. Durante o dia, as prisioneiras eram obrigadas a trabalhar. À noite elas eram reunidas em barracas geladas e apertadas. As péssimas condições de higiene propiciavam aparecimento de doenças. Anne teve sua pele vitimada pela sarna.
No dia 28 de outubro, Anne, Margot e a senhora van Pels foram transferidas para um outro campo, localizado em Bergen-Belsen, na Alemanha. A mãe, Edith, foi deixada para trás, permanecendo em Auschwitiz. Em março de 1945, uma epidemia de tifo se espalhou pelo campo de Bergen-Belsen.
Estima-se que cerca de 17 mil pessoas morreram por causa da doença. Entre as vítimas estavam Margot e Anne, que morreu com apenas 15 anos de idade, poucos dias depois de sua irmã ter morrido. Seus corpos foram jogados numa pilha de cadáveres e então cremados.
Em julho de 1945, a Cruz Vermelha confirmou as mortes de Anne e Margot. Foi então que Miep Gies entregou para Otto Frank o diário que Anne havia escrito. Otto mostrou o diário à historiadora Annie Romein-Verschoor, que tentou sem sucesso publicá-lo. Ela o mostrou ao marido, o jornalista Jan Romein, que escreveu um texto sobre o diário de Anne.
O diário foi finalmente publicado pela primeira vez em 1947.
A obra teve tal sucesso, que os editores lançaram uma segunda tiragem em 1950. O "Diário de Anne Frank" foi traduzido para diversas línguas, com mais de 30 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. O livro que começou como um simples diário de adolescente transformou-se num comovente testemunho do terror nazista
Anne nasceu na Alemanha em 1929. Seu verdadeiro nome era Annelies Marie, mas todos em sua família a chamavam carinhosamente de "Anne". Ela era a segunda filha do casal Otto e Edith Frank. Sua irmã, Margot, era quatro anos mais velha.
O pai era um homem de negócios e um oficial condecorado que lutou no exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1934, quando o nazismo fez aumentar as perseguições aos judeus na Alemanha, a família mudou-se para Amsterdã, na Holanda.
As filhas do casal foram matriculadas em escolas locais, onde se saíram muito bem nos estudos: Margot demonstrava maior aptidão para matemática, enquanto Anne demonstrava maior interesse em leitura e redação.
Em 1938, Otto Frank e um sócio, Hermann van Pels, fundaram uma empresa nova. O sócio também era um judeu que havia fugido com a família para a Holanda. Em 1939, a avó materna de Anne Frank veio morar com a família e permaneceu com eles até sua morte em janeiro de 1942.
Ocupação da Holanda
Em maio de 1940, a Alemanha nazista invadiu e ocupou a Holanda. Sob a ocupação nazista, os judeus que viviam na Holanda passaram a ser alvo de leis segregacionistas. Crianças judias ficaram proibidas de estudar nas mesmas escolas onde estudavam crianças não-judias. Por causa dessa proibição, Anne e Margot tiveram que ser transferidas das escolas onde estudavam para um colégio judaico.No dia 12 de junho de 1942, quando completou 13 anos, Anne Frank ganhou de presente de seu pai um livro. Esse livro era o mesmo que estava na vitrine de uma loja em que ela e o pai passaram e que havia lhe chamado a atenção. Embora fosse um livro para autógrafos, Anne começou a usá-lo como diário quase que imediatamente.
Nele, a jovem começou a registrar fatos corriqueiros na vida de qualquer adolescente. Pouco a pouco, Anne começou a registrar com freqüência cada vez maior as dificuldades enfrentadas pelos judeus por causa da ocupação nazista.
O esconderijo
No mês de julho de 1942, a família Frank recebeu a notícia de que seria obrigada a se mudar para um campo de trabalhos forçados. Para fugir desse destino, a família transferiu-se para um esconderijo no prédio onde funcionava o escritório do pai.Para deixar a impressão de que haviam fugido apressadamente, Anne e seus familiares deixaram o apartamento todo desarrumado. Além disso, o pai deixou um bilhete, tratava-se de uma pista falsa com o intuito de levar os nazistas a acreditarem que a família estava tentando viajar para a Suíça.
O prédio comercial onde Anne e sua família se esconderam tinha dois andares, com escritórios, um moinho e depósitos de grãos. O esconderijo consistia em alguns cômodos num anexo que ficava nos fundos do prédio. Para disfarçar o esconderijo, uma estante de livros foi colocada na frente da porta que dava para o anexo.
Na montagem do esconderijo, Otto Frank contou com a ajuda dos quatro funcionários em quem mais confiava: Victor Kugler, Johannes Kleiman, Miep Gies e Bep Voskuijl. Eles mais o pai de Johannes e o marido de Miep eram os únicos que sabiam da existência do esconderijo.
Vida clandestina
Essas pessoas mantinham os Frank informados com notícias da guerra e da perseguição dos nazistas aos judeus. Também os ajudavam trazendo comida que compravam no "mercado negro", tarefa que foi se tornando cada vez mais difícil e arriscada com o tempo. Os cidadãos não-judeus que ajudavam judeus a se esconderem corriam o risco de ser executados imediatamente pelos nazistas caso fossem descobertos.No final de julho daquele ano, outros judeus buscaram abrigo no mesmo esconderijo: a família van Pels, que era composta por Hermann, o sócio de Otto Frank, sua esposa, Auguste, e o filho Peter, um jovem de dezesseis anos.
No começo, Anne não se interessou pelo tímido Peter por achá-lo desajeitado demais, mas depois mudou de opinião e ambos iniciaram um romance. Em novembro, um amigo judeu da família de Anne também passou a morar no esconderijo: o dentista Fritz Pfeffer. Como era de se esperar, com tantas pessoas vivendo juntas e em condições precárias, problemas de convivência começaram a surgir. Para piorar, estava cada vez mais difícil conseguir comida.
Anne passava a maior parte do tempo escrevendo seu diário ou estudando. Todo dia, logo após o almoço, ela fazia atividades de matemática, línguas, história e outras matérias.
Na manhã de 4 de agosto de 1944, a polícia nazista invadiu o esconderijo, cuja localização foi descoberta por um informante que jamais foi identificado. Todos os refugiados foram colocados em caminhões e levados para interrogatório. Victor Kugler e Johannes Kleiman também foram presos, ao contrário de Miep Gies e Bep Voskuijl, que foram liberados.
Esses últimos voltaram ao esconderijo onde encontraram os papéis de Anne espalhados no chão e diversos álbuns com fotografias da família. Eles reuniram esse material e o guardaram na esperança de devolver à Anne depois que a guerra terminasse.
Auschwitz
Anne Frank e sua família foram mandadas para o campo de Auschwitz, na Polônia. Mais do que um campo de concentração, era também um campo de extermínio. Idosos, crianças pequenas e todos aqueles que fossem considerados inaptos para o trabalho eram separados do demais para serem exterminados de imediato.Dos 1.019 prisioneiros transportados no trem que trouxe Anne Frank, 549 (incluindo crianças) foram separados dos demais para serem mortos nas câmaras de gás. Mulheres e homens eram separados. Assim, Otto Frank perdeu contato com a esposa e as filhas.
Junto com as outras prisioneiras selecionadas para o trabalho forçado, Anne foi obrigada a ficar nua para ser "desinfetada", teve a cabeça raspada e um número de identificação tatuado no braço. Durante o dia, as prisioneiras eram obrigadas a trabalhar. À noite elas eram reunidas em barracas geladas e apertadas. As péssimas condições de higiene propiciavam aparecimento de doenças. Anne teve sua pele vitimada pela sarna.
No dia 28 de outubro, Anne, Margot e a senhora van Pels foram transferidas para um outro campo, localizado em Bergen-Belsen, na Alemanha. A mãe, Edith, foi deixada para trás, permanecendo em Auschwitiz. Em março de 1945, uma epidemia de tifo se espalhou pelo campo de Bergen-Belsen.
Estima-se que cerca de 17 mil pessoas morreram por causa da doença. Entre as vítimas estavam Margot e Anne, que morreu com apenas 15 anos de idade, poucos dias depois de sua irmã ter morrido. Seus corpos foram jogados numa pilha de cadáveres e então cremados.
O sobrevivente
Otto Frank foi o único membro da família que sobreviveu e voltou para a Holanda. Ao ser libertado, soube que a esposa havia morrido e que as filhas haviam sido transferidas para Bergen-Belsen. Ele ainda tinha esperança de reencontrar as filhas vivas.Em julho de 1945, a Cruz Vermelha confirmou as mortes de Anne e Margot. Foi então que Miep Gies entregou para Otto Frank o diário que Anne havia escrito. Otto mostrou o diário à historiadora Annie Romein-Verschoor, que tentou sem sucesso publicá-lo. Ela o mostrou ao marido, o jornalista Jan Romein, que escreveu um texto sobre o diário de Anne.
O diário foi finalmente publicado pela primeira vez em 1947.
A obra teve tal sucesso, que os editores lançaram uma segunda tiragem em 1950. O "Diário de Anne Frank" foi traduzido para diversas línguas, com mais de 30 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. O livro que começou como um simples diário de adolescente transformou-se num comovente testemunho do terror nazista
*Túlio Vilela, formado em história pela USP, é
professor da rede pública do Estado de São Paulo e um dos autores de
"Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula" (Editora
Contexto).
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